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11 casos de cyberbullying recentes no Brasil e suas consequências

11 casos de cyberbullying recentes no Brasil e suas consequências

Um dos maiores problemas das redes sociais são os danos que elas causam na vida real, principalmente entre os jovens. Algumas redes sociais, inclusive, colocam explicitamente que é contra as regras da plataforma a entrada de menores de 14 anos, mas elas são espertas suficientes para burlar essa situação e entrar no mundo muitas das vezes perigoso e malicioso. Nas redes sociais existem muitos haters e trolls, e ao cruzarem com crianças online são capazes de transformar uma experiência agradável da criança em tormenta eterna.

Não temos que nos acostumar com as formas agressivas ao qual as pessoas diluem ódio nas redes sociais e afins e é por isso que é sempre importante lembrarmos que os efeitos disso podem e vão trazer reflexos na vida offline. Engana-se quem pensa que cyberbullying é apenas “fazer uma ofensa”. Existem várias formas e por isso mesmo eu já listei aqui no blog as principais formas de cyberbullying.

Felizmente, nem todos os bullying virtuais resultam no suicídio infantil, porém, uma grande parte sim. Nesse artigo listei 11 casos de cyberbullying recentes no Brasil e suas consequências.

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10 casos de cyberbullying recentes no Brasil

10 casos de cyberbullying recentes no Brasil

Antes deu passar para os casos, queria compartilhar alguns dados recentes sobre uma pesquisa no Brasil. A pesquisa realizada pelo Ipsos coloca o Brasil como o segundo país com a maior incidência de casos de cyberbullying no mundo. Foram entrevistadas 20.793 pessoas em 28 países.

Cerca de 30% dos pais e responsáveis brasileiros, afirmam terem tido conhecimento de pelo menos um caso em que o filho ou a filha foi vítima de bullying. Nessa disputa, o país fica atrás somente da Índia que tem 35%. Ambos superam bastante a média global de 17%, de acordo com a pesquisa.

No Brasil, os perfis na internet são usados em 70% das vezes que uma criança é atacada nas redes. Nesse quesito, o país fica atrás de apenas quatro países: Peru (80%), Argentina (74%), México (73%) e Malásia (71%).

No geral, há dois tipos de bullying: o físico (como chutes e empurrões) e o psicológico (como insultos, comentários maldosos, fofocas). O bullying, em qualquer um dos casos – inclusive no universo virtual -, leva a vítima à ridicularização . Nos anos 70, o psicólogo Dan Olweus investigou o aumento do índice de suicídio na população jovem sueca e o relacionou ao bullying, publicando o primeiro estudo científico sobre o tema.

Casos fatais de Cyberbullying no Brasil

Caso Júlia Rebeca

Júlia Rebeca

Júlia Rebeca / Foto : Divulgação

Em 10 de novembro de 2013, a adolescente Júlia Rebeca, de 17 anos,  da cidade de Parnaíba – PI (a 345 quilômetros de Teresina), cometeu suicídio dentro de seu quarto após se enforcar com o fio da chapinha.  Horas antes, em seu perfil do Twitter e no Instagram, ela deu aquele que seria o dia de sua morte, e pediu desculpa para a família, lamentando “não ter sido a filha perfeita”. Júlia soube naquele dia que um vídeo com cenas de sexo entre ela, outra adolescente e um jovem, vazaram pelo WhatsApp. Nas imagens é possível ver que as cenas foram gravadas pela própria Júlia.

Depois que o vídeo “pegou ar”, Júlia se sentiu arrependida e com extrema vergonha de encarar o mundo novamente após a repercussão.  Júlia Rebeca anunciou então seu suicídio em sua conta no Twitter, onde pediu desculpas aos pais. Em seguida, o primo dela atualizou a página, confirmando a morte da jovem e que iria divulgar o local do velório.

Suas últimsa mensagens foram “Eu te amo, desculpa eu n ser a filha perfeita mas eu tentei… desculpa desculpa eu te amo muito mãezinha.. desculpa desculpa…!! Guarda esse dia 10.11.13” [sic].

Em outra ela tuitou: “É daqui a pouco que tudo acaba.” e por fim, sua última mensagem: “E tô com medo mas acho que é tchau pra sempre“. [sic].

Sua conta do Instagram acabou deletada por conta da repercussão do caso, mas a do Twitter segue para lembrar de quem um dia foi Júlia Rebeca, uma vítima do cyberbullying.

 

Caso Giana Laura Fabi

Giana Laura Fabi

Giana Laura Fabi / Foto : Divulgação

04 dias após o suicídio da Piauiense, em 14 de novembro de 2013, foi a vez da história se repetir do outro lado do país. A adolescente Giana Laura Fabi, suicidou-se quando tinha 16 anos. Giana foi encontrada enforcada em Veranópolis – RS (a 176 quilômetros de Porto Alegre). O motivo? Giana cometeu suicídio depois de descobrir que uma foto sua seminua foi publicada na Internet. A jovem foi achada morta em casa enforcada com um cordão de seda.

Alguns dias depois, no dia 20 de novembro, um amigo da adolescente se entregou à polícia se apresentando como o responsável por repassar a foto à um terceiro no Whatsapp e que depois a imagem fugiu de controle sendo repassada para mais e mais pessoas. Na imagem, Giana mostrava os seios ao paquera.

Giana ficou sabendo após uma amiga da adolescente, que recebeu a foto, ter alertado-a. A colega contou à polícia que a jovem ficou transtornada.

Naquela tarde, a mesma amiga viu uma mensagem de Giana no Twitter em que a adolescente disse que “daria um fim à própria vida para não ser um estorvo para ninguém“. Ela ainda tentou diversas vezes falar com Giana por telefone, mas ninguém atendeu.

O adolescente responsável pela distribuição da foto, de 17 anos, confirmou que a captação da imagem ocorrera seis meses antes, durante uma conversa dele com Giana pelo Skype. Ele pediu à ela que mostrasse os seios e, nesse momento, tirou print da tela. Foi essa foto que repassou a outros quatro amigos, segundo disse em depoimento.

Antes do suicídio, Giana postou a sua mensagem de despedida que está eternizada em sua conta aberta do Twitter “hoje de tarde eu dou um jeito nisso. não vou ser mais estorvo pra ninguém[sic].

 

Caso Karina Saifer Oliveira

Karina Saifer Oliveira

Karina Saifer Oliveira

Esse caso também ocorreu em novembro, porém não de 2013, alguns anos depois, no dia 07 de novembro de 2017 na cidade de Nova Andradina – MS. A adolescente Karina Saifer Oliveira, de 15 anos, cometeu suicídio depois de uma fofoca sobre o vazamento de fotos íntimas dela ter se espalhado pela escola em que estudava. Segundo os pais da garota, ela também recebia ofensas dos colegas de sala por alisar o cabelo, que era naturalmente crespo.

Karina não resistiu a pressão dos colegas de sala e tirou sua própria vida. A garota foi encontrada enforcada na varanda da residência onde morava. Quem encontrou o corpo da jovem foi a própria mãe. A dor que sentia, as agonias de uma adolescente marcada pela divulgação de fotos íntimas, bullying e pelo discurso de ódio de colegas da escola só foram descobertas pela família depois, quando em meio ao sofrimento, se depararam com o desrespeito à imagem da jovem já morta.

Fotos do cadáver de Karina, tiradas na cena do suicídio, vazaram no serviço de mensagens de WhatsApp e sofreram várias críticas e ofensas. A polícia investigava à época rumores de que o menino de 17 anos com quem  Karina namorou, foi o responsável pelo vazamento das 14 fotos íntimas dela na internet.

Após a morte dela, o perfil do Facebook foi transformado em memorial. Se você acessar a foto, poderá ver que algumas pessoas deixaram risos mesmo após a morte dela. Muito triste.

Caso Lucas Santos

Lucas Santos

Lucas Santos

O caso fatal mais recente de cyberbullying é do adolescente Lucas Santos, ocorrido em 3 de agosto de 2021. Lucas era filho da famosa cantora de forró Walkyria Santos e tirou a própria vida aos 16 anos. De acordo com informações repassadas pela mãe, Lucas não suportou as brincadeiras preconceituosas após um vídeo dele e de um amigo feito, segundo o menino, “feito para tirar onda”.  A mãe falou sobre a morte do jovem e disse que a sua conta no TikTok foi inundada de comentários preconceituosos e extremamente ofensivos. A preocupação do Lucas, porém, era no que a sua tia iria pensar e que inclusive, ele pudesse pegar uma surra forte e com motivos. Inclusive fiz um vídeo no meu canal sobre o Caso do Lucas Santos.

A mãe do adolescente tentou aliviar a barra da sua irmã e disse que ela não era responsável por nada, que o que levou o jovem a tirar a própria vida teria sido uma série de comentários maldosos por um vídeo que publicou no TikTok. Comentários esse que nunca foram vistos, porém, o caso corre em segredo de justiça.

“Hoje eu perdi meu filho, mas preciso deixar esse sinal de alerta aqui. Tenham cuidado com o que vocês falam, com o que vocês comentam. Vocês podem acabar com a vida de alguém. Hoje sou eu e a minha família quem chora”, disse ela em uma postagem no Instagram. “Eu te amo pra sempre meu filho Lucas Santos, eu te amo”, declarou-se, aos prantos.

Desde o ocorrido a conta do Lucas no TikTok passou a ser privada. Ninguém contou como o Lucas se matou só se sabe que foi a própria tia que o encontrou sem vida.

 

https://www.tiktok.com/@lucascads

Fiz um vídeo sobre o assunto e nele tem também o vídeo do Lucas e da Walkyria.

Casos Não Fatais de Cyberbullying no Brasil

 

Caso Mariana Alvarez

Maria Luiza, de Fortaleza, usa órtese desde os seis anos — Foto: Arquivo Pessoal

A pré-adolescente Maria Luiza, de 13 anos, sofreu cyberbullying em um aplicativo de conversas em vídeo com outros adolescentes. Engana-se quem pensa que o caso é antigo… Ele ocorreu agora, em agosto de 2021, alguns dias após o Lucas Santos tirar a própria vida devido cyberbullying. O caso da Maria Luiz se deu logo após a Maria Luiza postou um ensaio fotográfico dela em seu Instagram com a sua órtese na perna esquerda, órtese essa que ela usa desde os seus seis anos de idade. Depois disso, ouviu frases preconceituosas ao participar de uma videochamada com colegas em um aplicativo. Maria Luiza ouviu ironias e comentários preconceituosos como “E aí Malu? Você sabe jogar futebol? Tem a perna biônica, né?”.

A mãe dela se revoltou e postou nas redes sociais sobre a situação. A publicação de Mariana (mãe da adolescente) viralizou nas redes sociais entre cearenses e reacendeu a discussão acerca de como o bullying virtual pode atingir pessoas de diversas idades, incluindo adolescentes e de várias formas.

Malu não consegue movimentar a perna esquerda sem o auxílio de uma órtese e duas muletas. Da perna direita, após anos de fisioterapia, ela recuperou 90% do movimento. Foi para se empoderar, como diz a própria mãe, que a menina decidiu fazer um ensaio fotográfico. Mas a órtese parece ter chamado mais atenção de quem queria magoar.

“Não eram nem amigas e amigos dela, alguns conhecidos entraram na sala [de videochamada em que Maria Luiza estava] e entraram só para fazer isso com ela”, narra Mariana, que atribui ao fato um caso de “esgotamento físico e mental”.

Segundo a empresária, por causa de todo o volume de mensagens, Malu está priorizando responder pessoas que tenham algum tipo de deficiência e se identificaram com o seu caso.

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por @mari_alvarez

Caso Débora dos Santos

Débora dos Santos

Débora dos Santos / Foto : Divulgação

A Débora dos Santos se sentia linda naquela noite de início de 2012. Ela estava em uma confraternização com a família, quando usou os óculos do primo e fez uma selfie com o celular. A jovem, na época com 15 anos, compartilhou a fotografia em seu perfil no Facebook. O registro feito em um momento de alegria se tornou um dos maiores traumas de sua vida.

No início, após publicar a selfie na rede social, a imagem ganhou likes de amigos da jovem, mas dias depois, Débora notou que desconhecidos estavam compartilhando a fotografia e de tantos compartilhamentos, logo vieram os memes com a foto da Débora.

Como a imagem havia sido retirada de um perfil privado e compartilhado por diversos perfis, a autora “sumiu” e passou então a ser conhecida como a “diva da Oakley”, em alusão à marca dos óculos que ostentava na fotografia. Enquanto a selfie arrancava risadas daqueles que compartilhavam a imagem, Débora chorava em seu quarto, no bairro Chácara Santana, na periferia da zona sul de São Paulo (SP).

A repercussão da imagem fez com que a garota evitasse sair de casa para não ser reconhecida. “Eu me sentia muito feia, muito humilhada e inferior às outras meninas. Nos comentários sobre os memes com a minha foto, falavam muito sobre a minha aparência e isso me chateava”, contou Débora, atualmente com 22 anos, à BBC News Brasil.

Na época, ela abandonou a escola, deixou de sair de casa e chegou a tentar o suicídio. “Não tinha forças pra nada. Só chorava e me culpava por ter tirado aquela foto.”

Semanas atrás, mais de sete anos depois dos primeiros compartilhamentos da foto, Débora viu sua imagem voltar a ser utilizada como meme nas redes sociais. “As pessoas tinham parado de compartilhar a selfie. Mas, recentemente, muitas páginas de Facebook, e algumas do Instagram, resgataram aquela foto e fizeram chacota. Foi como se tudo tivesse voltado.”

Hoje, ela é mãe de um garoto de três anos, trabalha como atendente em uma farmácia de São Paulo e tem tentado fazer com que a situação não a afete como antes.

O principal passo que Débora pretende dar sobre sua exposição nas redes sociais é processar por injúria os donos de perfis e páginas que mantêm os memes com ela, mesmo com o pedido da jovem para que o conteúdo fosse excluído. “Vou tomar as providências cabíveis, se a pessoa não quiser excluir a foto. Ninguém tem o direito de me expor assim.”

Por meio de nota à BBC News Brasil, o Facebook informou que bullying e assédio violam os padrões da comunidade da rede social. No comunicado, a empresa solicita que as pessoas denunciem conteúdos que acharem que não deveriam estar na plataforma.

Um dos memes feitos com a foto de Débora (Foto: Reprodução / via BBC News Brasil)

 

Caso Julia Gabriele

meme Julia Gabrielle antes e agora

Julia Gabrielle antes e agora

Esse foi um dos casos que mais repercutiu nas redes sociais em 2013, o caso ocorreu em 19 de março de 2013. Naquele ano a adolescente de 11 anos Julia Gabriele foi vítima de um caso de cyberbullying. A estudante foi exposta e ridicularizada em várias páginas, principalmente de humor devido seus pelos faciais, principalmente da sobrancelha. O problema foi que algumas pessoas descobriram o perfil pessoal da Julia Gabriele, e as ofensas passaram das páginas de humor para seu perfil pessoal.

Você consegue imaginar a situação? A criança implorando para pararem, sendo submetida a uma tortura psicológica, enquanto os piadistas insistiam em continuar tirando sarro. Eu gostaria de um exercício de imaginação muito simples: imagine-a chorando, ao lado da sua mãe, postando súplicas pras pessoas pararem e, em contra partida, as piadas apenas aumentavam.

Muita gente postou a foto dela com instrumentos cortantes, pinças e até aparelhos de depilação e comentavam que ela deveria cuidar melhor da aparência. Após essas piadas, ela revelou que sair de sua casa era um inferno, na sua rua todos riam dela. Antes de apagar sua conta no Twitter, Julia fez um apelo, pedindo que as pessoas parassem com a maldade que estavam fazendo com ela. Leia os tweets da garota (de baixo para cima):

Twitter da Júlia Gabriele / Reprodução

Twitter da Júlia Gabriele / Reprodução

Devido as sobrancelhas grossas da garota de 11 anos, apenas 11 anos, ainda criança, 11 anos, os internautas acharam que isso era motivo suficiente para tirar sarro e transformá-la cruelmente em meme. Porém, em meio a tanta crueldade com a menina, algumas pessoas tiveram empatia com ela e se uniram para dar apoio a jovem. A partir de então Julia Gabriele chegou a participar de vários programas de televisão, e também estampou vários sites de renome.

Julia contou que não mudou sua sobrancelhas pelas criticas e sim porque quis. Abaixo como ela era aos 12 anos.

Caso Lara da Silva

Lara da Silva se tornou meme após briga na saída da escola, em novembro de 2015 - BBC News Brasil/Arquivo Pessoal

Lara da Silva se tornou meme após briga na saída da escola, em novembro de 2015 – BBC News Brasil/Arquivo Pessoal

Era fim de uma manhã de meados de novembro de 2015. Na saída de uma escola estadual da cidade mineira de Alto Jequitibá, município com pouco mais de 8.000 habitantes, diversos adolescentes acompanharam a cena que logo rodaria a internet.

O vídeo mostrava Lara caída no chão, enquanto Jéssica estava em cima dela. As duas trocam agressões. Lara consegue se levantar após a outra garota correr. Ainda desorientada, arruma o cabelo e pergunta: “Já acabou, Jéssica?”

As agressões físicas se encerraram ali. Passou então a começar o bullying virtual, afinal muitas pessoas na cidade haviam visto o vídeo da briga que rodou o país inteiro e explodiu entre as palavras mais buscadas em 2015, tendo sido o 4º maior meme de 2015.

O retorno à sala de aula após o vídeo viralizar foi dramático para Lara. Em entrevista recente ela disse que não conseguia estudar, porque a zoavam muito e ela ficou muito mal com isso. Ela comentou que as pessoas a ofendiam e riam da pergunta “já acabou, Jéssica?”, que passou a ser repetida massivamente em todo o país. Ali, começou o tormento de Lara.

Quando perceberam que a filha estava abalada, os pais tiraram a garota da escola. Lara foi proibida pela mãe de acessar a internet ou assistir à televisão, pois sua mãe não queria que a menina corresse o risco de acompanhar comentários sobre a briga.

A rotina de Lara após virar meme se resumia a ficar em casa ou ir a lugares próximos, como a residência de parentes ou mercadinhos na região em que morava. Nas vezes em que saía nas ruas, ela costumava ser reconhecida e ouvir comentários sobre o vídeo.

Lara conta que começou a se mutilar mais ou menos quatro dias depois do vídeo viralizar nas redes. Os cortes, segundo ela, eram um meio de tentar aliviar o momento que estava vivendo. Ela fazia marcas nos braços e em algumas partes das pernas.  A mãe, ao perceber, buscou acompanhamento especializado para a filha. Lara enfrentava uma viagem de cerca de duas horas em uma ambulância que levava os moradores de Alto Jequitibá que precisavam de ajuda médica em outro município. Nesse período, Lara foi diagnosticada com problemas como depressão, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e transtorno de ansiedade e chegou a tomar sete remédios por dia!

jovem largou estudo e caiu em depressão ao virar meme

Há seis ações movidas por Lara, que têm como alvos: o Google, o Facebook, as emissoras de televisão SBT, Record e Band e dois rapazes que criaram um game baseado no vídeo da briga.

As ações judiciais representam a busca por reparação por tudo o que viveu nos últimos anos. É o capítulo fundamental em uma história que dificilmente será apagada da vida dela. Enquanto o vídeo permanece na rede, ao menos um fato traz alívio para Lara: as abordagens ofensivas ou jocosas sobre a situação reduziram cada vez mais nos últimos anos. A esperança dela é de que, em algum momento, pare de ser alvo de piadas por causa da situação.

Sobre Jéssica, Lara comenta que elas não mantêm contato, porém explica que os problemas entre elas foram superados. Hoje, Lara tem 18 anos. Ela trabalha como auxiliar de limpeza e cuidadora de idosos. No futuro, planeja cursar farmácia ou enfermagem. “Gosto de cuidar de pessoas doentes”, diz.

Além do trabalho, ela também está concluindo o ensino médio. Ela explica que já deveria ter se formado, se não tivesse passado cerca de um ano longe da sala de aula, após a repercussão do vídeo.

Quando a questionam sobre o que ter se tornado meme trouxe para ela, Lara é enfática: muito bullying, depressão e falta de confiança em si e nas pessoas.

“Eu tenho marcas que não mudaram em nada a minha vida. Não fiquei rica ou pobre. Só tenho marca”, afirma Lara.

A jovem conta que parou de se cortar há cerca de um ano. Ela continua em tratamento para a depressão.

Erica Lano Vitória

Érica Lana Vitório,

Érica Lana Vitório

Em 2019, a jovem Érica Lana Vitório começou a transformar o sonho de ser modelo profissional em realidade. A jovem de 22 anos foi descoberta por um olheiro em São José da Barra (MG), fez um book e trabalhos para uma loja de roupas e começou a dar seus primeiros passos rumo a fama. Ela estava realizada, até que se viu vítima de uma postagem de mau gosto. Uma das fotos dela viralizou nas redes sociais e abalou o psicológico da modelo.

“Me senti bastante humilhada, detonada. Tentei me esconder dentro de casa. Pensei que as pessoas iam me julgar, fiquei em choque ao ver a repercussão que estava acontecendo”, revelou.

O que a Érica passou pode também ser enquadrado como cyberbullying, que é um bullying cometido nas redes sociais e nos meios digitais. E isso é crime! A modelo ao invés de lamentar o que aconteceu, continuará trabalhando para conquistar cada vez mais espaço. A menina, que cresceu na roça, no meio de uma lavoura de café, tem certeza que vai realizar sonhos na carreira profissional. Em meio a toda essa situação, ela deseja que ninguém passe pelo o que tem passado.

“Muitas pessoas já desistiram de seu futuro por ter passado pelo que estou passando agora”.

Modelo é vítima de cyberbullying em São José da Barra e busca responsável por postagem feita nas redes sociais — Foto: Cacá Trovó/EPTV

 

Caso Thamiris Natalie Mayumi Sato

 

Thamiris Natalie Mayumi Sato

Agredida da mesma forma, a partir de um “revenge porn,  após a publicação de suas fotos nuas em 31 de outubro de 2013,  a estudante de letras da Universidade de São Paulo (USP), Thamiris Natalie Sato, 21 anos à época, fez diferente. Abalada, ela também chegou a pensar em suicídio, mas reagiu e decidiu usar a rede para se defender das agressões e ameaças de seu ex-namorado, o búlgaro Kristian Krastanov, 26.

Kristian e Natalie haviam terminado o relacionamento em 15 de julho de 2013, de acordo com ela, eles brigavam muito. Ele achou que foi porque ela queria farrear e estava traindo-o, mas ela nega que tenha o traído e que decidiu terminar o namoro porque era desgastante. Então seu ex-namorado publicou uma foto dela em grupos de pornografia do Facebook. Ele tinha exposto uma foto do seu rosto, sem sutiã e ela tirou print screen como prova de que foi ele.

Ele começou em série criar perfis falsos da estudante com fotos dela nua, inclusive em sites de pornografia, e também a ameaçou de morte. Depois de procurar a polícia para registrar as ameaças, ela publicou no seu perfil no Facebook, um desabafo que, em menos de 24 horas, tinha 1.600 compartilhamentos. O post “Meu desabafo como vítima de revenge porn” pode ser lido no blog Feminismo Sem Demagogia.

Página de Thamiris no Facebook teve 1.600 compartilhamentos após desabafo | Foto: arquivo pessoal/divulgação

Jovem postou desabafo em rede social (Foto: Reprodução/Facebook)

Jovem postou desabafo em rede social (Foto: Reprodução/Facebook)

“Pensei em me matar porque estava me sentindo presa em uma situação que não via saída. Ele não ia ser preso, ia ser processado só por ameaça e injúria, no máximo. Quando uma coisa cai assim na internet, é praticamente impossível sair. Me sentia cada vez mais humilhada, mas tirei isso da cabeça. Recebi muito apoio e isso faz toda a diferença. Se agora ele está recebendo todas essas mensagens de ódio, que ele disse para mim, é culpa dele. Se as coisas estão se voltando para ele ou para a família dele, sinto muito. Ele que tivesse pensado antes de me expor nua. Esse semestre, infelizmente, vou trancar a faculdade. Por causa de todas as ameaças, mensagens, essa tortura psicológica que estava sofrendo, não consegui me concentrar para estudar. Não sei o que vou fazer no próximo ano, mas sei que quero resolver esse assunto. Kristian deletou a página dele no Facebook, mas continua me mandando mensagem por um perfil falso. Ele só não esperava que eu tivesse força para expor todo o caso. ” disse a jovem.

Em entrevista à época, ela disse : “Foi outro dia que passei chorando. Senti raiva, vergonha, tudo junto. Ver comentários ridículos de pessoas julgando você, te chamando de safada. Ninguém fala que o cara é culpado. Só quando você escreve um texto e mostra seu lado é que algumas pessoas entendem. Julgamentos como “Se você não quisesse, não teria tirado a foto” é o que a maioria fala. Eu tinha falado para um deles que ia me matar, mas depois bloqueei a pessoa. Logo em seguida, outros vieram me perguntar “ah, você não vai se matar não, né?”. Foi aí que me toquei que o que eu falava era repassado para outras pessoas. (Thamiris não aguenta a emoção e chora). Tinha gente rindo, fazendo piadas. Foi o pior tipo de humilhação que já passei na vida.”

O ex, o búlgaro Kristian Mihaylov Krastanov continua no Brasil e a justiça ainda não o encontrou. Ele na época deletou sua conta no Facebook. Recentemente buscando pra fazer essa matéria vi um bilhete de passagem dele saindo de São Paulo e indo para Angra dos Reis, mas a justiça brasileira ainda não havia encontrado-o…. Sobre a Thamiris, não consegui encontrá-la em 2021 para saber como está. O máximo que encontrei foi um comentário dela em um site de compras. Acredito que esteja bem, apenas longe das redes sociais.

Thamiris Mayumi Sato, a vítima que deu seu depoimento para Marie Claire (Foto: arquivo pessoal/facebook)

Thamiris Mayumi Sato, a vítima que deu seu depoimento para Marie Claire (Foto: arquivo pessoal/facebook)

Caso Francyelle dos Santos Pires

Francielly dos Santos Pires, durante entrevista em 2015 / Reprodução/ Rede Record

A jovem Francyelle dos Santos Pires, a Fran, teve a vida exposta após ser filmada pelo ex-namorado em Goiânia – GO. Fran tinha à época 19 anos e era mãe. Ela manteve um relacionamento de três anos com o empresário Sergio Henrique de Almeida Alves e confiava cegamente nele. Ela foi filmada durante uma relação sexual. Dois meses depois, ela terminou o caso. Em um dia de trabalho, amigos começaram a mandar mensagem e a ligar dizendo que o vídeo estava na internet. Fran não acreditava no que estava acontecendo com ela. O vídeo foi gravado em julho de 2013. Fran contou que ficou sabendo do vídeo por uma amiga, no dia 3 de outubro, enquanto trabalhava.

A primeira coisa que ela fez foi ligar pro Sergio Henrique. Ele negou ter sido o responsável pelo vazamento do vídeo e disse que iria ajudá-la a descobrir quem foi. Durante o ato sexual gravado pelo seu namorado, um gesto seu viralizou e tornou-se meme. O gesto do “Ok”.

No entanto, para a estudante, não há dúvida de que foi o ex quem divulgou, pois era a única pessoa com quem se relacionava e com quem já tinha gravado vídeos íntimos. As imagens ficavam dentro de uma pasta no celular, que fica dentro de outra. Para entrar nas duas eram preciso de senhas que só ele sabia, ressaltou ela.

A reação daqueles que assistiram ao vídeo, que se tornou viral, foi de recriminar a moça, com comentários agressivos e até xingamentos, e repassar as imagens, tornando a situação insustentável para ela e sua família. Fran foi demitida e mudou de aparência para se livrar do excesso de exposição, e ainda denunciou o caso à polícia: o processo contra o ex-namorado até hoje está se arrastando na justiça de Goiás.

As imagens se espalharam rapidamente e foi usado até por celebridades. Algumas em apoio à jovem e outras apenas reproduziram o gesto para “rir” da situação. Em entrevista à Rede Record, quase dois anos após ter a intimidade exposta, a vida dela já com 21 anos, não havia voltado ao normal. Até pouco tempo atrás, a jovem manteve a identidade preservada porque tinha vergonha e chegou a pensar em suicídio.

“Minha vida não consegue mais entrar no eixo, não consegue mais seguir o rumo. Eu sempre tenho esse passado me atormentando. Cheguei a pensar em me matar”, disse ela.

Meme da Fran / Reprodução Internet

“Eu confiei. Nunca imaginei que ele faria isso”, desabafou Fran. O vídeo de Fran com o ex parceiro foi compartilhado milhares de vezes. Ela virou piada na internet e na cidade. Ela contou ainda que seu celular não parava e chegou a registrar o boletim de ocorrência.

A Fran contaou que teve que mudar a aparência e parar de trabalhar. Hoje, ela evita sair de casa. “Eu era uma menina alegre que trabalhava, que estudava, que tinha uma rotina bem corrida. E hoje eu não consigo fazer mais essas coisas da minha rotina”. Depois do vídeo, Fran perdeu o emprego. Sem ter dinheiro para pagar o curso, precisou trancar a faculdade. A jovem teve depressão e desenvolveu mania de perseguição.

“As pessoas ficavam ligando, me oferecendo propostas como se eu fosse uma prostituta. A partir daquele momento, minha vida virou um inferno e está até hoje desse jeito”.  A jovem relatou os momentos difíceis que passou depois que o vídeo foi divulgado na internet.

“Tinha momentos que eu não conseguia sair do meu quarto. Eu só conseguia chorar. Eu tentei trabalhar, mas não conseguia porque as pessoas já sabiam [do vídeo]. As pessoas me julgando e aquela hipocrisia de falarem “ah, porque você fez isso, eu não faço isso”. Como se eu tivesse cometido um crime, como se eu tivesse matado alguém”, disse a jovem.

Fran tentou ter uma vida normal, mas até hoje é julgada por muitos. “É um fantasma que te assombra para o resto da sua vida. Eu sei que quando eu estiver velhinha alguém vai falar “eu vi o seu vídeo”.

Francielly, durante entrevista em 2015 / Reprodução/ Rede Record

O ex-namorado sempre negou ter publicado o vídeo na internet. O caso foi encerrado em outubro de 2014. O homem foi condenado a prestar serviços comunitários por cinco meses. A advogada de Fran disse que o empresário vive uma vida normal: se casou, tem um filho e é dono de um bar em área nobre de Goiânia

“Meu cliente não é a pessoa que está no vídeo, muito menos a pessoa que divulgou o vídeo”, disse o advogado Hugo de Angelis.

Ex-namorado da Francielle Santos

O advogado Hugo de Angelis, responsável pela defesa de Sérgio Henrique de Almeida Alves, suspeito (até hoje é só suspeito, tem base?) de divulgar vídeos íntimos de Francyelle dos Santos Pires, afirma que seu cliente é inocente e está muito abalado com o caso. “Está vivendo preso em sua própria casa”, diz. Segundo ele, Fran nutria um “amor platônico” pelo jovem e, como o sentimento não era correspondido, resolveu acusá-lo de ter divulgado o material.

Hugo de Angelis, responsável pela defesa de Sérgio Henrique de Almeida Alves / Foto : Divulgação

 

Conclusão

Como pudemos ver nesses relatos, o cyberbullying não se limita aos muros das escolas nem ocorre apenas entre jovens ou estudantes. Todos os usuários da internet contribuem na formação da sua comunidade e de suas regras de convivência, da mesmíssima forma que fazemos na “vida real”. Precisamos aprender a usar as mídias sociais para nos fortalecer e nos aproximar das pessoas em vez de incentivar a violência.

Os conflitos nas redes sociais não se relacionam apenas com o cyberbullying, mas também com a grande incidência de quadros de transtornos mentais de ansiedade e depressão.

Não compartilhe memes de pessoas em situação degradante. Não compartilhe pornografia de revanche. Publicar sem autorização conteúdo íntimo de outras pessoas, ou compartilhar estes conteúdos nas redes é uma violência que precisa ser enfrentada. Quando se trata de imagens de menores de 18 anos, este compartilhamento pode ser classificado como distribuição de “Pornografia Infantil“, mais uma forma de violência sexual.

O Bullying aliado com as redes sociais revela a face mais cruel dessa violência. Tanto meninos e meninas, homens e mulhres, acabam marcados, estigmatizados e passam a ser lembradas por muitos anos. Entre as mulheres, muitas mudam de aparência, endereço, abandonam ou mudam de escola, porque têm muita dificuldade para serem esquecidas ou desassociadas da violência sofrida.

Lembre-se: A vítima nunca é culpada. É importante cuidar da saúde mental para evitar consequências mais graves em nosso bem-estar.

Se você precisar denunciar crime de Cyberbullying, a SaferNet Brasil oferece um serviço de recebimento de denúncias anônimas de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet, contanto com procedimentos efetivos e transparentes para lidar com as denúncias. Além disso, contamos com suporte governamental, parcerias com a iniciativa privada, autoridades policiais e judiciais, além, é claro, de você usuário da Internet. Caso encontre imagens, vídeos, textos, músicas ou qualquer tipo de material que seja atentatório aos Direitos Humanos, faça a sua denúncia.

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Sobre Marcus Pessoa

Nascido em Manaus, sou designer e empreendedor, focado em cultura amazônica, comunicação digital, economia criativa, turismo e empreendedorismo.
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