No ano de 1901 uma tragédia passional atingiu a cidade de Manaus. Dessa tragédia, o nome de uma jovem foi e será para sempre lembrado : Etelvina de Alencar. Filha de Cosme José de Alencar e Antonia Rosalina de Alencar, Etelvina nasceu em Boa Vista do Icó (CE), em 1884, vindo para Manaus em companhia de sua genitora, já então viúva, e de três irmãs, sendo uma destas casada.
Chegando a Manaus, a família foi então para a Colônia “Campos Sales”, inaugurada dois anos antes, onde se ia dedicar aos trabalhos agrícolas.
Com o passar dos anos, Etelvina conheceu o colono chamado José que logo a primeira vista se apaixonou por ela e queria logo casar. Eles então ficaram noivos.
Aos 17 anos, Etelvina, porém, desistiu do casamento e falou pra José que não queria mais se casar com ele. Isso provocou um choque no José e uma tremenda fúria.
Além disso, havia uns boatos, ou como podemos dizer, fake news de que Etelvina tivesse além do José, três namorados, que seriam Antonio, Estevam e Henrique.
José então pirou o cabeção e em março de 1901 decidiu se vingar, não só da ex-noiva, mas, igualmente, dos três rapazes que imaginava serem os causadores de sua infelicidade. E tudo planejou, fria e demoradamente.
José então veio à cidade, onde adquiriu um rifle e várias munições e falou pros amigos que mataria todos.
E, assim, aconteceu. Mal entrou na colônia, atirou em Estevam, que óbvio não esperava a agressão e ainda baleado tentou fugir, José então dá o segundo tiro em Estevam e esse cai morto. Mais adiante, ele encontra Henrique e vão pra porrada e quando deu a oportunidade, ele atirou a queima roupa matando Henrique também. Ainda possuído pelo ódio, José segue seu caminho matando todos que vê pela frente. A terceira vítima da fúria sanguinária de José foi Antônio, um caboclo que dormia à sombra de uma árvore próximo à Casa da Administração da Colônia.
Cometidos os três crimes, José se dirige à residência de Etelvina, e, valendo-se do coice do rifle pôs abaixo a porta da casa. Nessa ocasião, aparece Versoli, que era o Administrador da Colônia, que procura interceptar a entrada do criminoso, sendo também morto, por este.
Etelvina vê tudo e então tenta correr, mas foi alcançada pelo José que a arrastou pra dentro da floresta que tinha próximo da região. Depois sumiram. Todos da Colônia ficaram em busca, mas só foram realmente encontrar o corpo em 08 de março de 1901. Há exatos 120 anos atrás.
Após alguns dias buscando-a, ali encontraram duas caveiras que se defrontavam, entre eles o rifle que explicava a cena final: José matou Etelvina e depois se suicidou.
Essa é a triste história da Santa Etelvina, a Santa dos Estudantes. Existem outras versões que dão à essa história, mas são histórias sem H, ou seja, estórias.
A o longo dos anos, vários milagres de curas de doenças foram atribuídos a Etelvina, além de milagres estudantis, e por isso Santa Etelvina ficou conhecida como a Santa dos Estudantes. Vale ressaltar que apesar de a população tê-la santificado, sua canonização nunca ocorreu.
Em 16 de setembro de 1964, a Prefeitura autorizou uma construção de um mausoléu para Santa Etelvina, até hoje um dos jazigos do Cemitério Municipal São João Batista que mais recebem visitantes no Dia dos Finados.
Em 1984, a área onde existiu a Colônia Campos Salles passou a ser denominada bairro Santa Etelvina.
Existem 3 coisas que gostaria de chamar a atenção nesse caso, o 1º Sobre as Fake News, que mostra que desde o princípio a desinformação e os boatos causam mortes e a Santa Etelvina foi justamente uma vítima de boatos e continua sendo até hoje, afinal, existem outras versões que a colocam como uma das piores pessoas da terra. Ou pejorativos, como “A Santinha do Pau Oco”. “A Santinha dos 4 namorados”.
A 2ª sobre a questão do feminicídio. No qual demonstra que crimes contra mulheres sempre ocorreram em nossa cidade, por ódio, desprezo, sentimento de posse, ciúme descontrolado enfim todos relacionados com o pensamento retrógrado de enxergar a mulher como coisa e não como ser humano possuidor dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. Aqui dá também uma longa discussão de como é importante desenvolvermos cada vez mais políticas que promovam a educação, a igualdade de gênero e a fiscalização da lei, além de leis, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, que criminalizam e propõem punições específicas e mais severas para quem pratica crimes de violência contra as mulheres.
A 3ª questão é sobre a desvalorização dos patrimônios culturais de Manaus. O jazigo construído pela população no local que o corpo da Santa Etelvina Alencar foi encontrado é a prova disso. Pouca gente sabe desse espaço e hoje encontra-se dentro do quintal da Dafra. Isolado e por isso está apodrecendo. Algo que poderia facilmente ser um ponto turístico, uma vez que a população já faz suas preces e homenagem à Santa no local.