Durante as fortes chuvas, não demora muito para que Manaus esteja completamente inundada. A combinação entre o falho sistema de escoamento das águas pluviais e o excesso de chuva provocado pela umidade da nossa cidade, faz com que em poucos minutos as ruas fiquem intransitáveis e doenças como leptospirose possam ser facilmente contraída.
Infelizmente a incompetência política e a falta de um planejamento urbano sério e eficaz faz com que padecemos sem quaisquer propostas de solução para esses eventos repetitivos. As casas alagam, as pessoas sofrem, ás águas inundam as galerias e depois toda essa sujeira é lançada em nossos rios. Aquela água suja evapora e temos um ciclo da água completo, com muita probabilidade de chuvas ácidas.
Na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, um Programa de Infraestrutura Verde, lançado em 2012, previu a instalação de “jardins de chuva”. Esses pequenos bolsões de verde absorvem e retêm as águas pluviais, ajudando a mitigar as inundações e a proteger a qualidade da água em todos os canais da cidade tornando-se um plano de infraestrutura verde. Após os primeiros testes, evoluiu de projetos-piloto para um sistema municipal.
O responsável pela implantação do projeto foi o Departamento de Proteção Ambiental de Nova York (DEP) que desenvolveu um plano ambicioso focado na criação de sistemas naturais. Além desses jardins de chuva, o plano prevê telhados verdes e muitos mais jardins de chuva. Desde 2012, a DEP instalou mais de 4.000 jardins de chuva, e esse ano tem outros 5.500 em construção e a caminho.
Embora pareçam muito com um simples foço de árvores de rua, os jardins de chuva são cuidadosamente projetados para desviar e reter a água durante fortes chuvas, furacões e até marés. As equipes de construção escavam um poço de cerca de um metro e meio de profundidade e o preenchem com pedra e areia do solo. Elas são projetadas para permitir a passagem da água. No topo, eles colocam terra e plantam arbustos, flores e às vezes árvores. O plantio inclui uma entrada de meio-fio para a água fluir pela rua antes de entrar, assim elas ajudam também a controlar a velocidade da água.
Atualmente, os jardins de chuva evitam que cerca de 200 milhões de galões de águas residuais entrem nos cursos d’água de Nova York todos os anos. E quando não está chovendo, eles podem “esverdear” a paisagem urbana em um sentido mais amplo: melhorando a qualidade do ar urbano, embelezando as ruas da cidade e proporcionando sombra e vegetação que ajudam a reduzir o efeito de ilha de calor urbana.
Uma outra coisa bacana dessa iniciativa, são os sinais azuis afixados nas árvores. Eles instruem os moradores a ligar para o 311 para obter mais informações. Existe uma linha direta de “jardins de chuva” para responder as perguntas dos moradores ou receber relato de possíveis problemas. As equipes de manutenção da DEP também são treinadas para responder às perguntas freqüentes que recebem durante o trabalho. Muitos moradores ficam surpresos ao saber que os jardins de chuva são funcionais, não meramente decorativos.
Claro que nem tudo foram flores. Dependendo da região onde esses jardins são implantados vem a percepção da população à eles. Em áreas altamente industrializadas, os jardins são áreas raras de vegetação. Em bairros residenciais com moradias ou prédios de apartamentos, eles lêem como embelezamento da paisagem urbana pública. Mas nas partes da cidade dominadas por casas unifamiliares, a calçada é vista menos como um direito de passagem pública do que como parte do jardim da frente de alguém.
Em 2017, o New York Times publicou um artigo sobre os proprietários que tentavam impedir que os jardins de chuva fossem construídos perto deles. Alguns temiam que os jardins coletassem mosquitos ou criassem mosquitos. A DEP sustenta que as hortas não retêm água por mais de 48 horas. Os residentes que pavimentam ou plantam grama na área da cidade entre a calçada e a rua podem ver os jardins de chuva como uma imposição da estética escolhida. A DEP não previra isso. Em resposta, eles desenvolveram novos modelos de jardim de chuva coberto com grama ou calçada de concreto permeável que os proprietários podem agora solicitar.
Os moradores da cidade já começaram a fazer os jardins da chuva funcionarem para eles. Troncos de árvores foram recrutadas como bicicletários. Os moradores até adicionaram plantas ao recinto. Já teve gente encontrando até tomates e pepinos plantados nessa área, porém, os alimentos foram removidos pois, funcionários da DEP explicaram a pretensos jardineiros que não é seguro comer vegetais regados pelo escoadouro das ruas. Outras espécies também os utilizaram para sustento. Funcionários da DEP têm documentado beija-flores, borboletas rabo de andorinha, joaninhas e abelhas neles.
Toda a infraestrutura exige manutenção, a priore quem toma conta dos jardins são os funcionários da DEP que agem conforme são acionados pelo 311, porém, no ano passado, a DEP lançou um programa de mordomia que permite aos proprietários interessados “adotar” um jardim de chuva e receber treinamento para cuidar dele.
Em um recente evento em Bedford Stuyvesant, 25 pessoas de uma associação local plantaram 115 plantas em oito jardins de chuvas. Pode ser difícil conseguir que os moradores coloquem lixo nas lixeiras de rua vazias. Mas se muitos gostam de ajudar a manter um pequeno pedaço da natureza, isso pode se tornar outro benefício dessas máquinas orgânicas em funcionamento.
Já pensou se tivéssemos isso em Manaus? Deixe suas observações nos comentários!