No último dia 11 de janeiro havia feito o exame para detectar se eu estava com Covid-19 e o resultado do exame deu reagente
A partir dali eu sabia que teria que tomar alguns cuidados e esses foram meus primeiros acertos. Me isolei e tentei falar com alguns amigos médicos para que me orientassem no tratamento.
Esse foi meu segundo erro.
O primeiro erro foi ter começado a me medicar ainda no sábado com o tradicional “kit Covid”. Pois mesmo sabendo do mal que poderia gerar, a preocupação e vontade de atenuar os efeitos foram maiores.
Então comecei a tomar Prednisona, Sulfato de Zinco, Xarelto, Azitromicina, Ivermectina, acetilcisteína, Dropropizina, Paracetamol
Um erro tão grave que quase custou minha vida.
Eu sabia que teria que fazer um exame de Tomografia Pulmonar no 9º dia da doença e então comecei a pré-agendar. Como eu já estava no 3º dia quando fiz o teste na segunda-feira, agendei o exame para a sexta-feira seguinte. Quando chegou no dia do exame, eu já sentia um pouco de dificuldades de respirar, mas dava pra levar tranquilamente. Aqui foi mais uma acerto, porque se não tivesse sido pré-programado e com o caos que o Amazonas se encontrava, poderia ter sido pior.
De acordo com o oxímetro, um aparelho pequeno usado para monitorar o nível de oxigenação do sangue, eu estava com 95 e às vezes subindo para 96 e às vezes baixando para 94, o que me fazia ficar confiante que toda a medicação que havia tomado, estava fazendo efeito e que o pior havia passado. Esse monitoramento individual é um dos acertos que fiz.
Porém, o pior na verdade só começa a partir do 9º dia e por isso é fundamental você saber quando exatamente a doença iniciou em você. Pois você aprenderá a contar os dias de uma forma mais intensa. A cada hora sem tosse você comemorará. A cada hora sem febre você sentirá alegria. Você não fará planos de 3 dias, mas saberá que essa batalha contra a Covid-19 se vence dia após dia.
Do 9º ao 15º dia a doença entra na fase inflamatória que é a fase mais grave. Isso eu aprendi com a bola rolando. Na minha cabeça os dias mais terríveis seriam o 4º e o 5º dia e que depois seria recuperação, mas não é assim não…
Como essa variante que estava circulando no Amazonas é muito forte, todo mundo da casa da Jussara foi infectado. E então no sábado resolvemos compartilhar o mesmo espaço. Como estávamos doentes a mais tempo, poderíamos organizar e o que nós errássemos, corrigiríamos para que os outros não errássem.
Foi exatamente o que aconteceu. Consegui ainda organizar a lista de medicamentos para a segunda fase e tirar dúvidas com um médico amigo que ao saber o que havíamos feito na primeira fase, me mandou esse áudio dizendo que havíamos errado.
Nesse momento sabia que com o corpo aberto a porrada seria ainda maior. Então tratei de tomar medicamentos pra subir a imunidade e tentar amenizar o meteoro que estava vindo em nossa direção. Nesse momento a minha sócia Jussara já estava com muitas dificuldades para respirar, crises de tosse, e eu sabia que precisaríamos garantir oxigênio para caso precisássemos, ter.
Vocês acompanharam como estavam as coisas em janeiro no Amazonas, certo? Foi nesse cenário que o Roger enfrentou fila para abastecer nossos cilindros e correr atrás de engrenagens, afinal, tinha muita gente pilantra oferecendo cilindros metalúrgicos pras pessoas sendo que eles não serviam. A polícia inclusive pegou uma dupla vendendo extintor de incêndio como se fossem cilindros médicos. Tudo isso tivemos que aprender com bola rolando. Aprender sobre tipos de cilindros, engrenagens, como manusear e tudo isso custa muito dinheiro.
Tão logo conseguimos ter, como um milagre divino, fizemos uso do oxigênio. Eu, Jussara e Javier. Os outros filhos dela não estavam tão mal e nem a prima dela. Mas nós três estávamos bem mal.
Justamente por ser muito contagiosa a doença, nós não queríamos ajuda externa para não correr o risco de contaminar ninguém. As poucas ajudas que havíamos aceitado até então eram de pessoas que já sabíamos que tinham adoecido e sabiam exatamente como era enfrentar a Covid-19, pois foram pessoas que venceram a doença ainda na primeira onda e que agora, na segunda onda, estavam como soldados ajudando quem mais precisava.
Uma dica. Aceite ajuda. Você sozinho e isolado poderá morrer. O cansaço da doença é tão forte que estender toalha no banheiro torna-se um trabalho enorme. Subir uma sacola do chão pra pia é um gasto de oxigênio enorme. Você ir no banheiro é super cansativo. Tarefas simples tornam-se verdadeiras maratonas. Andar 50 metros em uma casa correspondem a uma corrida de 5km. Você então começa a pensar como o oxigênio é importante. Bocejar já não é possível. Deitar numa cama dá trabalho.
A doença lhe domina. Ela quem dita as regras. Ela que diz quando você vai dormir e ela que lhe acorda. Ela lhe julga se você pode ou não pode fazer tal coisa. Ela é como se fosse o mal. Ela lhe dá tosse quando ela quer. Ela lhe dá febre quando ela quer. Você apenas segue os castigos dela sem saber se defender. Assim foi até o 15º dia quando fiz a nova tomografia para saber o que tinha acontecido na segunda fase. Pra minha surpresa, meu comprometimento pulmonar que na primeira fase tinha sido de 15 a 25%, nessa segunda fase ficou entre 50% a 70%. Na hora de puxar o ar, eu não consegui encher meu pulmão 2 segundos, enquanto na primeira tomografia eu havia conseguido puxar algo como 4s.
Tentei manter a calma mesmo sabendo que tudo estava indo de mal a pior. E mais uma vez aceitei ajuda de procurar um médico presencialmente que fosse especialista na doença. E veio uma recomendação de um médico que havia salvo o marido da minha prima. Foi justamente nele que fui.
Ele passou um tratamento para a gente de 10 dias com injeções diárias na barriga para o anticoagulante. Com 2 dias as coisas clarearam e saberíamos que a vitória estava a caminho.