28set
A Praça da Saudade no seu traçado original

A Praça da Saudade no seu traçado original

Um dos locais que mais carrega curiosidade em Manaus é a Praça da Saudade. Inaugurada no ano de 1865, e inicialmente conhecida como “Largo da Saudade”, a Praça da Saudade tinha seus limites desde o antigo cemitério velho chamado de São José (localizado onde atualmente é a sede do Atlético Rio Negro Clube) até o Instituto de Educação do Amazonas (local onde seria construído o palácio do governo do Amazonas, na gestão do Governador Eduardo Ribeiro).


Um outro fato curioso da praça é que na época do governo provincial do Presidente Francisco José Furtado em 1858, o cemitério foi cercado e a praça não passava de um largo com pouca arborização. Então em 1865, foi proposta pela Câmara Municipal de Manaus a construção da praça e a proposta de se oficializar o nome de praça da Saudade. O termo “Saudade” era referência ao cemitério, pois muitas pessoas iam para o Largo chorar pelos seus que haviam partido…

Praça da Saudade no seu traçado original

Num trabalho do setor de Comunicação da Prefeitura Municipal, há um registro de que o nome Praça da Saudade foi dado apenas em julho de 1867, por sugestão do vereador Antônio Davi Vasconcelos Canavarro, apoiado pelos seus colegas João Inácio Rodrigues, Clementino Guimarães, Guilherme Moreira, José Antônio Barroso, Henrique Antony, Francisco José da Silva Ramos e Francisco Antônio Monteiro Tapajós. O trabalho cita que antes a referida praça tinha o nome de “5 de Setembro”. Aliás, oficialmente é esse o nome dela. 5 de Setembro é referente à Elevação do Amazonas a Categoria de Província ocorrido em 1950. Por isso também existe uma estátua do João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, primeiro presidente da província do Amazonas.

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A denominação de praça, como dito, veio em 1897, mas só em 1932, de acordo com registros documentais, veio adquirir corpo e forma, na gestão de Emmanuel Morais com a construção de jardins e passeios. O cemitério nesta época já havia sido fechado. Após a demolição, os restos mortais que haviam no local foram transferidos para o São João Batista. Em 1938 teve seu traçado original modificado e seus canteiros foram renovados com a colocação de vegetação exótica, mas as estátuas de bronze que representam os homens primitivo e moderno só foram colocadas em 1963, época em que foram retiradas as pérgolas laterais.

Vale ressaltar que através da Lei nº 1.477, de abril de 1928, a Praça da Saudade passou a denominar-se de Praça Washington Luis, em ato que foi assinado pelo presidente da Intendência, Sérgio Rodrigues Pessoa.

Depois de alguns anos, exatamente em setembro de 1937, numa das reuniões da Câmara Municipal que funcionava nas dependências da antiga Escola Normal, Quartel da Polícia Militar do Estado, o Intendente Sérgio Rodrigues Pessoa apresentou Projeto de Lei mudando mais uma vez a denominação da Praça da Saudade (embora oficialmente com o nome de Washington Luís) para Praça 5 de Setembro. O projeto aprovado e transformado em Lei com apenas um artigo, portanto, ARTIGO ÚNICO, com esta redação:

“A atual Praça da Saudade passa a chamar-se de hoje em diante e para sempre, Praça 5 de Setembro, revogam-se as disposições em contrário”.

Vista aérea da Praça da Saudade, com o Atlético Rio Negro Clube no canto inferior direito, na então década de 1950.
Foto: Corrêa Lima. Acervo: Eduardo Braga.

A Lei foi assinada pelo presidente da Câmara, Lucano Antony e pelo Secretário Ranulfo Lima Bacuri. Eram vereadores na época, Luiz Almir do Vale Corrêa, Oscar da Costa Rayol, Augusto César Fernandes, Azemar Damasceno Couto, Sérgio Pessoa, os presentes à reunião. Faltou no dia da aprovação do projeto, o Vereador Cursino Dias Gama. A Lei recebeu o número 225, de 6 de setembro de 1937.

Mesmo depois de aprovada, foram feitas algumas críticas a Lei, condenando, principalmente, as constantes mudanças das nomenclaturas de nossas ruas, praças e avenidas. Na reunião do dia 13 de setembro, sete dias após a promulgação da Lei, o Vereador Sérgio Rodrigues Pessoa voltou a se pronunciar sobre a sua proposição dizendo:

“Meu único fim apresentando o Projeto mandando restabelecer a denominação da Praça 5 de Setembro, que cerca de 40 anos já tinha essa denominação, é que pela Lei nº. 1.477, de abril de 1928, foi substituída para Washington Luís, e pelo Decreto nº 01 de 1930, foi mudada para Getúlio Vargas e que no ano seguinte, pelo Decreto nº 49, voltou a ser denominada de Praça da Saudade, enquanto o nome de 5 de Setembro foi levado para um beco ao lado da Igreja dos Remédios. Este foi o motivo que me levou a apresentar o projeto, hoje lei nº 225, em desagravo a data de maior júbilo para o Amazonas”.

Ao concluir sua justificativa, disse o Vereador Sérgio Rodrigues Pessoa:

“Outro intuito não podia ter, pois desejo seguir as pegadas do benemérito governador do Estado, Dr. Álvaro Botelho Maia, que em carta muito gentil a esta Câmara desistiu da homenagem que a mesma queria prestar-lhe dando o seu nome a uma das ruas do subúrbio desta capital por ser contrário a estas homenagens a pessoas vivas”.

A atitude do Intendente Sérgio Rodrigues Pessoa decorreu em razão da aprovação da Lei nº 1.401, de 26 de abril de 1927, assinada pelo Dr. José Linhares de Albuquerque, presidente da Intendência, dando a denominação de rua Coronel Sérgio Pessoa ao trecho da rua, sem nome, ao lado direito da Igreja dos Remédios.

O nome oficial de praça 5 de Setembro, portanto é em homenagem a data da elevação do Amazonas à categoria de Província e uma homenagem a Tenreiro Aranha que tanto lutou pela emancipação do Grão-Pará. Portanto, o nome oficial nunca se tornou popular. O certo é que mesmo o nome oficial estando inscrito na placa da estátua de Tenreiro Aranha, o manauense a conhece apenas por Praça da Saudade.

Praça da Saudade com a estátua de Tenreiro Aranha ao centro e os caramanchões laterais. Manaus. Acervo: Biblioteca do IBGE – Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Municípios brasileiros.

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Sobre Marcus Pessoa

Nascido em Manaus, sou designer e empreendedor, focado em cultura amazônica, comunicação digital, economia criativa, turismo e empreendedorismo.
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