8jul
A polêmica da Black Face no Festival Folclórico de Parintins 2019

A polêmica da Black Face no Festival Folclórico de Parintins 2019

O 54° Festival Folclórico de Parintins que neste ano aconteceu nas noites de 28, 29 e 30 de junho, no qual sagrou-se campeão o boi Garantido, teve muito a nos ensinar sobre cultura, preconceito e assuntos modernos que estão sendo discutido em larga escala, entre eles o uso de “black face“.

No momento em que o mundo discute sobre racismo, miscigenação e ódio contra imigrantes, o corpo de jurados do Festival Folclórico levantaram um tema tanto quanto polêmico e que com certeza vale a pena ser discutido. O assunto ainda é de desconhecimento da grande massa , mas com certeza será levado em consideração a partir das próximas edições do Festival de Parintins.

Durante a abertura dos envelopes com as notas dos bumbás a comissão julgadora parabenizou o espetáculo, mas emitiu uma nota de repúdio a black face que ocorreu no festival folclórico no tradicional item do pai Francisco e a mãe catirina.

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“O black face é a reprodução de esteriótipos racistas. Quando colocamos pessoas que não são negras para representar negros e os pintamos de preto, estamos sendo desrespeitosos com a raça. Se os índios são representados por pessoas com traços indígenas e os brancos são representados por brancos na festa, nada mais justo que Catirina e Pai Francisco sejam representados por pessoas negras. No século passado black face era usado para ridiculizar os negros”, criticaram os jurados.

pai Francisco do Boi Bumbá Garantido / Foto : Divulgação

pai Francisco do Boi Bumbá Garantido / Foto : Divulgação

Os jurados vieram dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba e Minas Gerais, destes dois últimos estados vieram dois jurados de cada. Os avaliadores possuem qualificações de mestrado, doutorado e pós-doutorado nas áreas que envolvem os blocos comum/musical, cênico/coreográfico e artístico.

Embora extremamente qualificados, eles esquecem porém que não é porque uma pessoa se caracteriza de negro, que obrigatoriamente isso é “black face”. O  Black Face propriamente dito é um extinto estilo teatral norte-americano, de motivação racista, humorístico e baseado na estereotipação e inferiorização dos negros, não apenas pela pintura, mas também pela ridicularização do falar e dos trejeitos.

Ora, se no caso da encenação de ambos os bois, o Pai Francisco e Catirina estão encenando um auto, não estão fazendo comédia ou negativando a raça negra, se movem sempre com o reforço de interpretação cênica, afinal o boi bumbá e o bumbá meu boi são festas de fantasia e de simbologia, logo, ao meu ver a licença poética fazem parte dessa essência. É uma linha atenua que separa um do outro.

Por isso penso que criar uma problematização como esta por pessoas que desconhecem a nossa cultura, mais cedo ou mais tarde iria acontecer. E é óbvio que agora não tem mais como negar. Quando essa polêmica chegasse, ela causaria justamente o que causou : Desconforto na grande maioria que se quer alguma vez se preocupou com assunto de racismo no boi bumbá de Parintins.

Curiosamente ou se antecipando, o boi-bumbá Caprichoso este ano não fez blackface porém do Garantido sim e mesmo com toda essa confusão, o boi Garantido foi campeão.

Caprichoso veio sem ‘black face’ no último dia do festival deste ano. Foto: Ana Clarissa/ BMA

Caprichoso veio sem ‘black face’ no último dia do festival deste ano. Foto: Ana Clarissa/ BMA

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Sobre Marcus Pessoa

Nascido em Manaus, sou designer e empreendedor, focado em cultura amazônica, comunicação digital, economia criativa, turismo e empreendedorismo.
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