A fala popular brasileira apresenta uma relativa unidade, apesar das dimensões continentais do Brasil.
A comparação das variedades dialetais do português brasileiro com as do português europeu leva à conclusão de que aquelas representam em conjunto um sincretismo destas, já que quase todos os traços regionais ou do português padrão europeu que não aparecem na língua culta brasileira são encontrados em algum dialeto do Brasil.
Há pouca precisão na divisão dialetal brasileira. Alguns dialetos, como o dialeto caipira, já foram estudados, estabelecidos e reconhecidos por linguistas tais como Amadeu Amaral. Contudo, há poucos estudos a respeito da maioria dos demais dialetos, e atualmente aceita-se a classificação proposta pelo filólogo Antenor Nascentes. Em entrevista ao jornal da UNICAMP,5 o linguista Ataliba de Castilho diz que o padrão do português paulista espalhou-se pelo Brasil. “Se você olhar mapas que retratem os movimentos das bandeiras, das entradas e dos tropeiros, verá que os paulistas tomaram várias direções, para Minas e Goiás, para o Mato Grosso, para os estados do sul. Tudo isso integrava a Capitania de São Paulo. Na direção do Vale do Paraíba, eles levaram o português paulista até Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Era paulista a língua que se falava no Rio de Janeiro. Isso mudou em 1808, quando a população do Rio era de 14 mil habitantes e D. João VI chegou com sua Corte, cerca de 16 mil portugueses. Não eram portugueses quaisquer. Eram portugueses da Corte. Seu prestígio fez com que imediatamente a língua local fosse alterada. E os cariocas começaram a chiar, como os portugueses de então”.
A primeira célula do português brasileiro surgiu em Minas Gerais com a exploração de pedras preciosas, quando bandeirantes paulistas, escravos, índios e europeus criaram um jeito de pronunciar que se espalhou pelo país através do comércio e outras formas. Os principais dialetos do português brasileiro são:
Baiano – falado predominantemente na Bahia, mas utilizado em regiões do Sergipe e de Minas Gerais;
Brasiliense – dialeto utilizado em Brasília e em sua área metropolitana.22
Caipira – falado na região que compreende o interior de São Paulo, sul de Goiás, o extremo norte do Paraná, parte do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais e Triângulo Mineiro;
Cearense, por vezes chamado de dialeto da Costa norte – é falado basicamente no Ceará, na porção oeste do Rio Grande do Norte, no Piauí, e em parte do Maranhão;
Carioca – na cidade do Rio de Janeiro, e em sua região metropolitana;
Florianopolitano ou manezinho da ilha – é um dialeto, derivado do sulista e do gaúcho e com características do dialeto açoriano, utilizado na Região Metropolitana de Florianópolis e em regiões do litoral catarinense.
Fluminense – dialeto usado principalmente na região serrana e no sul do estado do Rio de Janeiro, com falantes em regiões de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo;
Gaúcho – predominantemente no Rio Grande do Sul, contudo falado em regiões de Santa Catarina;
Mineiro – utilizado principalmente nas regiões central e leste de Minas Gerais;
Nordestino – é utilizado em Pernambuco, parte do Sergipe, parte do Piauí, parte do Maranhão, Alagoas, Paraíba, parte do Rio Grande do Norte e na porção sul do Ceará.23 Possuem diferenças linguísticas – sub-dialetos, sendo os três principais: litorâneo, ou da Zona da mata, se estendendo desde Maceió até Natal; do interior, falado nas regiões do agreste e da caatinga; e dos cocais, falado em partes do Piauí e do Maranhão;
Nortista – utilizado em todos os estados da bacia do Amazonas (excetuando somente a região do arco do desflorestamento). Considera-se que tenha até quatro sub-dialetos: o cametaense, utilizado na região de Cametá e em algumas regiões da Ilha do Marajó; o Bragantino, falado na microrregião Bragantina; o metropolitano, falado nas capitais Belém e Manaus e em suas regiões metropolitanas, e o dos cocais, com influências dos dialetos nortista, da serra amazônica e do cearense, falado principalmente no Maranhão, e em partes do Piauí e do Pará.
Paulistano – utilizado basicamente na Macrometrópole de São Paulo (com exceção dos municípios falantes do dialeto caipira);
Recifense – utilizado na Região Metropolitana do Recife, e em áreas próximas;
Serra amazônica ou do arco do desflorestamento – utilizado na região do arco do desflorestamento: Rondônia, norte de Mato Grosso, Tocantins, sul do Maranhão e sudeste do Pará. São marcantes as diferenças entre o dialeto desta região e o da bacia amazônica;
Sertanejo – utilizado nos estados de Goiás, sul de Mato Grosso, em parte do Tocantins, e em parte do Mato Grosso do Sul;
Sulista – utilizado em todo o Paraná, com exceção da região norte, praticamente todo o estado de Santa Catarina e em pequena porção do Mato Grosso do Sul.
Dialeto padrão
No português brasileiro não há uma pronúncia padrão única clara, mas os dialetos das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro são os que têm maior exposição, devido à condição de centro econômico e midiático das duas cidades. Se o dialeto paulistano já foi apontado como o mais prestigioso entre os brasileiros24 , é o dialeto do Rio de Janeiro25 26 que é apontado com maior frequência pelos estudiosos como possível padrão brasileiro.
O Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada, reunido em São Paulo em 1937, decidiu, reiterado pelo congresso de Língua Falada no Teatro, reunido em Salvador em 1956, adotar a pronúncia carioca como padrão nacional recomendado para o canto e o teatro, porém extirpando-se certas marcas características daquele dialeto, em particular o s chiado em fim de sílaba27 28 . Como foi notado29 , a pronúncia elegida é intermediária entre os dialetos do Rio de Janeiro e de São Paulo sem as marcas mais distintivas de cada um, usando o s final como é falado em São Paulo e o r final do Rio de Janeiro. Essa pronúncia corresponde à do apresentador William Bonner, que, embora paulistano, usa o r final gutural em vez da vibrante simples alveolar (/?/) característica de São Paulo, e Fátima Bernardes, que, embora carioca, usa em fim de sílaba a fricativa alveolar /s/, em vez do fonema chiado /?/ característico do Rio de Janeiro.
Fonte: Wikipedia