29abr
Análise sobre o Conexão Repórter e o Caos em Manaus

Análise sobre o Conexão Repórter e o Caos em Manaus

Na última segunda-feira (27), o SBT exibiu o 6º episódio da série “O Inimigo Invisível“. A série faz parte do Programa Conexão Repórter que é apresentado pelo jornalista Roberto Cabrini. Nesta semana 6, o programa mostrou o Caos em Manaus e expôs para todo o Brasil como está a situação no Estado frente a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19).

É óbvio que o Amazonas parou para assistir, e alguns locais a energia elétrica chegou a ir embora, de acordo com poucos depoimentos na internet. A Saúde Pública no Estado do Amazonas há anos sofria com desvios milionários dos recursos nos esquemas criminosos como o descoberto na “Operação Maus Caminhos”.

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A reportagem tocou nas feridas do sistema público de saúde do Amazonas, visitou hospitais, feiras e cemitérios. Conversou com as pessoas e mostrou um pouco da realidade local. O meu recorte analítico foi baseado em 4 pontos que acredito merecem atenção maior. Ela na íntegra, coloquei ao final do texto. Os pontos que abordarei serão à uma contextualização maior, em relação as denúncias do Governo do Estado, em relação à Prefeitura de Manaus e em relação à População.

Análise sobre o Conexão Repórter e o Caos em Manaus

Análise sobre o Conexão Repórter e o Caos em Manaus / Reprodução Youtube

Contextualização do Coronavírus e a Crise da Saúde no Amazonas

Antes de começar, é importante que todos relembrem o famoso caso da Maus Caminhos,uma das operações com mais desdobramentos na história do Amazonas, é também a primeira a alcançar o alto escalão de políticos do Estado. Deflagrada em 2016 para investigar desvios de dinheiro da saúde pública, a Maus Caminhos já tem 4 anos com fases caminhando para o encerramento e outras ainda na fase de investigação pela Polícia Federal. Sendo que a última atualização da Maus Caminhos foi justamente nesta terça-feira (28). Para se ter uma ideia da Maus Caminhos em números – Desde a deflagração da Operação Maus Caminhos, no ano de 2016, o MPF já ofereceu 118 ações à Justiça Federal, entre ações penais e de improbidade administrativa, processando civil e criminalmente mais de 80 pessoas físicas. A operação também contabiliza a expedição de 137 mandados de busca e apreensão e a prisão, de forma cautelar, de mais de 50 pessoas em seis fases deflagradas ao longo de quatro anos.

O valor dos pedidos de reparação dos danos causados pelo esquema de corrupção, feitos pelo MPF nas ações, somam mais de R$ 104 milhões.

Foram envolvidos o governador cassado José Melo; a esposa dele, Edilene Oliveira; o irmão dele e ex-secretário de Administração Evandro Melo; os ex-secretários da Saúde do Estado (Susam), Wilson Alecrim, Pedro Elias; o ex-secretário da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz) Afonso Lobo, e o ex-chefe da Casa Civil, Raul Zaidan e outras pessoas suspeitas de integrar a organização criminosa encabeçada pelo médico Mouhamad Moustafa prestaram depoimento à Justiça Federal.

O Covid-19 chegou em Manaus na sexta-feira dia 13 de março de 2020. Estamos com apenas 45 dias do novo vírus e já temos 4.337 casos confirmados de Covid-19. O boletim epidemiológico, divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) já aponta 351 mortes. O rápido aumento no número de mortes em Manaus, não só pela Covid-19, provocou um colapso funerário.

Na segunda-feira (16), durante um pronunciamento oficial, o governador Wilson Lima decretou situação de emergência em saúde pública tomou as primeiras as medidas. Ele anunciou que estavam suspensas as férias de todos os servidores da Secretaria de Estado de Saúde (Susam) até o dia 15 de maio e as aulas da rede pública em Manaus também estariam suspensas.

10 dias após o primeiro caso, o governador do Amazonas, Wilson Lima, decretou estado de calamidade pública por conta da pandemia do novo coronavírus no estado, que à época contabilizava 32 casos confirmados. Entre as medidas, o Governo anunciava o fechamento de estabelecimentos comerciais e de lazer.

Ou seja, as ações foram tomadas logo que o vírus chegou em Manaus e bem antes dele se espalhar. Quem fala o contrário, infelizmente, age com má fé.

Assim, o jornalista teve a oportunidade de expor as vísceras de um sistema que já estava morto. Não resistiu a 1 mês do novo vírus antes de colapsar, mesmo que tenham aliados políticos que neguem.

Cabrini teve a oportunidade de visitar o Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, no bairro do Adrianópolis e mostrar a realidade de profissionais da saúde, que lutam com o pouco que tem e até alguns dias atrás, estavam sem receber seus salários há 3 meses. Após cobrança dos deputados, e em especial do deputado Serafim Corrêa, a nova Secretária de Saúde se comprometeu em pagar o salário dos profissionais e assim o fez no dia seguinte. Isso foi um pouco antes da Secretária de saúde do AM, Simone Papaiz, ser diagnosticada com novo coronavírus.

Acontece que segundo uma enfermeira, a classe dos enfermeiros ficou de fora e eles continuam há 4 meses sem receber. A ponto de terem feito uma manifestação na última segunda-feira (27) em frente ao Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto. Os enfermeiros também falaram sobre precisarem tirar os equipamentos de proteção do próprio bolso e estão com carga horária exaustiva. Além dos problemas financeiros e de contaminação, os profissionais ainda contam com a questão psicológica.

A estrutura do hospital foi outra questão explorada; não há alas separadas para casos suspeitos e confirmados para a Covid-19. Corpos são colocados no chão e de Containers, que já haviam sido colocados em 4 hospitais de Manaus antes mesmo do sistema entrar em colapso. O container frigorífico para necrotério provisório após óbitos da Covid-19 é padrão internacional. Os corpos devem ser acondicionados em compartimento refrigerado, mas por segurança biológica e limitação de espaço, ficou definido que não ficarão no necrotério comum, por isso existem tantos desses em Manaus.

Apesar de tudo, a luta é constante e existem nas Unidades de Terapia Intensiva mais pessoas que se recuperam do que vão a óbito. Esclarecido alguns pontos de como o Amazonas tem enfrentado o Coronavírus e como ele estava já debilitado, iremos para o segundo tópico.

O médico Mouhamad Moustafa, antes e durante a prisão

O médico Mouhamad Moustafa, antes e durante a prisão

 

A participação do Govenador Wilson Lima na Matéria

Cabrini abordou temas já conhecidos e bastante explorados localmente. O suposto faturamento dos respiradores, o aluguel do prédio da Nilton Lins, os planos de expansão e a possível farra de dinheiro público aproveitando-se do Coronavírus.

Sobre o Suposto superfaturamento – O governador do Amazonas, Wilson Lima, negou que estivesse ocorrendo um superfaturamento, mas assumiu que existia um sobre-preço. Segundo o Governador, o motivo foi “ou se paga ou se paga”. Ele ainda disse que recebeu orçamentos com valores muito mais alto e desafiou quem estivesse oferecendo por um valor menor, que ele compraria. Isso porque o valor pago pelo Governo do Estado foi algo como 300% acima do valor de mercado vendidos no comércio nacional e importado em tempos normais; Em ato contínuo, precisou explicar porque ele foi comprado por uma “Adega”. O fato é que no CNAE da empresa, além da venda de vinhos, ela também é importadora e é autorizada a vender equipamentos de saúde e que realizou as compras de imediato porque o estado precisava com urgência. O Ministério Público de Contas apura o suposto superfaturamento.

Em um trecho da entrevista Roberto Cabrini pergunta ao governador Wilson Lima “O senhor,não ganha comissão por exemplo?” O Governador responde: “Não claro que não, claro que não, não existe isso, se tiver alguém no governo praticando qualquer coisa nesse sentido pode ter a certeza que está fora do governo”. Se caso tivesse, ele iria bem falar mesmo…Aí, aí, Cabrini…

Acredito que o pior, talvez, não seja o estado do Amazonas gastar R$2,9 milhões em 28 respiradores pulmonares para tratar de pessoas infectadas pela Covid-19, talvez a questão principal seja que o uso dos aparelhos em pacientes da Covid-19 não é o adequado. Embora os respiradores tivessem tido aval de médicos do Hospital Delphina Aziz, considerado referência no tratamento da Covid-19. Óbvio que o preço é imoral embora seja justificado pela lei de mercado: Oferta e demanda. Essas duas são forças que ditam preços e fazem um mercado funcionar, agora some-se à isso tempo e vida. Quanto mais o tempo passa, mais pessoas morrem.

Sobre o valor do aluguel do Hospital Nilton Lins – Wilson disse que pela estrutura era um valor super bem pago. Levou o repórter e sua equipe para mostrar como estava lá. Ao ser confrontado porque ele estava pagando um valor para 400 leitos e operando com poucos. Wilson disse que a estrutura estava disponível e que se ele tivesse um único leito, ainda assim ele faria negócio, pois estaria salvando vidas. Então, deu um prazo de até duas semanas estar operando com a estrutura totalitária para cuidar exclusivamente de casos de Coronavírus, sendo que as pessoas deverão ser encaminhadas pelo SUS.

Cabrini perguntou se pra ele estava tudo as mil maravilhas e o Governador disse que não. Que eles estavam operando no limite. Cabrini então questionou porque ele optou em alugar um prédio privado ao invés de expandir os próprios Hospitais Estaduais. Lima disse que está expandindo, porém, a opção foi dar mais opções e opções rápidas para que dê tempo de salvar mais vidas.

Quando esse assunto começou a circular, dava-se a ideia de que o valor seria mensal.

No estúdio, Cabrini disse que o Governador deveria ter chamado a imprensa e ter feito uma comunicação melhor de que ele estava sendo obrigado a pagar até 4 vezes a mais o valor.

Outros pontos abordados foram:

  • A confusão nos obituários e atestados de óbito;
  • O caso da paciente que chegou praticamente sem vida e todos achavam que era de Coronavírus, a família já mudou a versão de novo;
  • Uma outra moça que o pai ficou rodando de um lado pro outro em busca de atendimento até que ele veio à óbito;
  • O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mario Vianna, que também está com o novo coronavírus (Covid-19) e encontra-se em isolamento disse que ao seu ver o Governador estaria cometendo um Genocídio.
Cabrini conversando com o governador Wilson Lima / Reprodução Youtube

Cabrini conversando com o governador Wilson Lima / Reprodução Youtube

A participação do Prefeito Arthur Neto na Matéria

A participação do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), na matéria foi de Coadjuvante. Arthur concedeu entrevista ao jornalista Roberto Cabrini e ao ser questionado sobre as vítimas da doença, o Arthur Neto não conteve as lágrimas e se emocionou durante a reportagem.

“É impossível não me emocionar, se estou vendo pessoas que, se fossem atendidas, poderiam viver, muitas que não estão sendo atendidas estão morrendo em casa. Tenho 42 anos de vida pública, cada drama individual que já enfrentei na minha vida, ele foi enfrentado do melhor jeito que pude fazer, agora é um drama coletivo”, disse Arthur Neto durante a entrevista.

Cabrini mostrou o local estilo “trincheiras”que serviam com sepultamentos coletivos diante de um cenário de choro, lamentações e incertezas. A Prefeitura de Manaus chegou inclusive a autorizar que fossem postos, caixões sobre caixões, nesta terça (28), porém, o Decretou deixou de vigorar.

Um vídeo na internet mostra que a participação do Prefeito Arthur se dará em outro momento, pois quando o Cabrini visitou, entre outras estruturas, o Hospital de Campanha Municipal Gilberto Novaes, administrado pela Prefeitura de Manaus, Grupo Samel e Instituto Transire, foi mostrado como eles estão tratando através da Cápsula Vanessa. A cápsula protege profissionais de saúde e reduz o tempo de internação de pacientes.

No vídeo, Cabrini diz que exibirá como “exemplo positivo”. O que mostra que o assunto era o caos em si. O vídeo é esse abaixo.

A participação do feirante da Betânia na Matéria

Um personagem roubou a cena também. Um feirante negacionista. Ele causou indignação ao dizer em rede nacional que não usava máscara porque não tinha medo de ser contaminado pela Covid-19 e não iria usar porque era a sua opinião.

A opinião sincera dele, contrariando tudo e todos e negando a letalidade do vírus, é o mais típico amazonense. O Amazonense não está se cuidando e ainda está pensando em si próprio. Ele acha que não ficará doente, mas não percebe que sua imprudência poderá transmitir doença a muitos familiares e clientes.

 A verdade é que o Amazonense tá levando a pandemia no pagode que nem aquele feirante, mas vocês não estão prontos pra essa conversa…

Após repercussão, o Sindicato do Comércio Varejista dos Feirantes de Manaus emitiu uma nota informando que repudia as falas do feirante e estão tomando as providências para suspensão de seu alvará de permissionário.

“O Sindicato, manifestando a opinião da  MAIORIA ABSOLUTA DA CATEGORIA, repudia a infeliz atitude. Afinal, aquele único feirante não representa milhares de trabalhadores ”, diz um dos trechos da nota.

Negacionista da Feira da Betânia

O Inimigo Invisível: Semana 6 – Caos em Manaus | Conexão Repórter (27/04/20)

Na guerra à pandemia do coronavírus, o epicentro de uma tragédia anunciada. Diretamente de Manaus, Roberto Cabrini revela a dramática luta pela vida no hospital público mais precário da capital amazonense. “28 de Agosto” é o nome da unidade que virou exemplo real da sobrecarga no sistema de saúde causada pela pandemia. O Conexão Repórter mostra que, na cidade brasileira proporcionalmente mais atingida pela Covid-19, a situação é de caos. O jornalístico investiga a situação de profissionais de saúde, que estão sem receber há quatro meses, convivendo com falta de tudo, de remédios a equipamentos de proteção.

Cabrini mostra que eles são obrigados a enfileirar pacientes, todos muito próximos, em uma situação de desespero agravada pelos óbitos e enterros em massa, em valas coletivas. O programa também investiga a suspeita de superfaturamento, no que muitos chamam de “A farra da epidemia”. O jornalista percorre as ruas de uma Manaus sitiada pelo vírus, retratando em detalhes as causas e efeitos do problema, sob diferentes e surpreendentes ângulos. O programa também mostra histórias impressionantes de recuperação em uma reportagem histórica, que revela como e por que a capital brasileira encrustada na Amazônia chegou a essa situação de tamanho sofrimento.

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Sobre Marcus Pessoa

Nascido em Manaus, sou designer e empreendedor, focado em cultura amazônica, comunicação digital, economia criativa, turismo e empreendedorismo.
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