Falar de suicídio é um assunto ainda muito delicado e que exige o máximo de cuidado. Infelizmente o número de adolescentes que tiram a própria vida está aumentando em Manaus e silenciar esse drama pode ser fatal. Falar sobre suicídio significa quebrar um tabu.
É difícil entender como alguém pode… Melhor não dizer. Ou dizer? Convivemos com a ideia – parcialmente correta – de que falar disso põe em risco pessoas fragilizadas, que têm considerado essa saída e… Você sabe. Por outro lado, o silêncio não tem impedido que ele aconteça. As estatísticas do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que os casos subiram 12% em cinco anos no Brasil. Entre os adolescentes de 10 a 19 anos, o aumento foi de 18%.
Precisamos levar em consideração que nessa idade, eles estão enfrentando as primeiras frustrações. Se o pior acontece, o ambiente escolar sofre. E com círculos familiares e sociais cada vez menores, a escola é praticamente o único lugar de socialização dos jovens. Por isso, coragem: entender esse fenômeno e como ele afeta os adolescentes pode prevenir mortes e provocar discussões saudáveis.
Quando três estudantes tiram a própria vida em um intervalo de duas semanas, não é possível – nem indicado – se calar. Muito menos quando esses acontecimentos trazem à tona a estatística de que o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
A ideia de abafar o assunto por se acreditar que não falar de suicídio evita novos casos é antigo. Esse tabu é resultado da ignorância e da desinformação. Falar de suicídio é falar de saúde, porém, óbvio, que há de se levar em consideração os cuidados na abordagem, evitando os gatilhos para não incentivar a imitação, como no “efeito Werther”. No livro de Goethe “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de 1774; o método de suicídio usado pelo personagem da obra foi repetido por uma série de homens da época. Por falta do amor não correspondido, o personagem tira a própria vida para por fim ao seu sofrimento.
Até pouco tempo atrás, a mídia evitava o assunto baseada no “efeito Werther”, que justamente defende que um suicídio publicizado serve como gatilho para o suicídio de pessoa suscetível e sugestionável.
Mas, hoje em dia, muitos estudiosos do assunto, como a Doutora em Psicologia pela USP e membro do Conselho do CVV (Centro de Valorização da Vida), Karen Scavacini, têm uma outra visão sobre a questão. Ela acredita que o suicídio precisa ser exaustivamente debatido pela imprensa, que deve noticiar os casos sem julgar e sem romantizar.
Além disso, a psicóloga alerta que os pais não podem minimizar quando os filhos dizem que podem ou desejam se matar, acreditando na máxima de “quem fala, não faz”. “Se o adolescente está falando, a gente precisa dar atenção, precisa começar uma conversa aberta, franca e cuidadosa para entender se esse jovem realmente está pensando em cometer suicídio.
Questionada se as redes sociais estão piorando essa ansiedade entre os jovens? A dra. Karen disse que já existe algo que a gente chama de “efeito Facebook”, que é quando os jovens acreditam em tudo o que eles veem na rede social, que todo mundo tem uma vida mais legal que a deles, que a tristeza não é algo que faça parte da vida das pessoas. Aí quando ele se vê triste não reconhece esse sentimento como algo normal, que acontece e que vai passar.
Portanto, as pessoas precisam quebrar o tabu e falar sim, mas sempre observando o jeito certo de tratar esse assunto. Você reporta o caso de suicídio sem julgar, romantizar. É necessário que a matéria indique locais onde procurar ajuda e mostre que existem saídas antes de se recorrer ao suicídio, outras formas de enfrentar as adversidades da vida, contar a história de pessoas que sobreviveram, dar exemplos de superação, sempre apontando caminhos. Esse seria o chamado ‘efeito papageno’.
O Papageno é um personagem da (ópera) Flauta Mágica, de Mozart que, quando decide que vai cometer suicídio conversa com três pessoas que o demovem da ideia, apontam a ele outras saídas. E ele não se mata. E esse método está sendo utilizado para debater os benefícios de se falar sobre suicídio na mídia.
Em 2017, o Ministério da Saúde “adotou” o Centro de Valorização da Vida – CVV tornando as ligações gratuitas. No Estado do Amazonas o CVV pode ser acessado pelo fone 188.
O CVV existe desde 1962 e construiu reputação, prestígio e notório saber em como fazer o serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio, reconhecido como de utilidade pública. Nos últimos anos, o governo multiplicou os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que na rede pública têm a função de acolher pessoas com várias patologias de ordem mental e quem tentou o suicídio ou tem ideação suicida.