Nem sempre temos uma verdade absoluta. Nem tudo que vemos é ou sempre foi assim. O largo São Sebastião é um exemplo clássico do que há muitos anos atrás durante o mestrado conheci como “disneyficação das cidades“. A disneyficação seria a busca frenética, por “novas oportunidades” para as cidades, de modo que o espaço público abdique do seu papel fundacional, enquanto lugar de relação, de convivência e de troca de informação, para se assumir como um palco de eventos e fantasias.
A sua própria identidade é posta em risco, com a construção de monumentos artificiais, ou no caso do Largo, todo remodelado para parecer como se fosse originário, sendo que todos vimos o quanto o local estava abandonado e tomado por drogados, prostitutas e travestis, mas que hoje, graças a recuperação e ação política está revitalizado e serve a população.
Tenho minhas críticas sobre a disneyficação, mas nesse post específico, falarei sobre a cor do Teatro Amazonas e suas mudanças ao longo do século, até porque esse é um assunto que até hoje gera dúvida, qual é a verdadeira cor da fachada do Teatro Amazonas na sua inauguração e por que se mudou? E com a última reforma por que tem aquela cor dourada no fundo das letras e por que as escritas estão em azul? Mas as letras não eram brancas?
Para iniciar, segue o projeto da fachada do Teatro Amazonas. Notar como era levemente diferente do que foi terminado, sem contar que no projeto original nem mesmo havia a cúpula.
Para falar sobre a cor do Teatro Amazonas vou usar trechos do livro que estou lendo que se chama “Manaus . História e Arquitetura (1852-1920)” de Otoni Mesquita.
Recentemente a Secretária de Cultura do Estado do Amazonas (SEC) está pintando a parte externa do Teatro Amazonas, até ai normal, mas, desta vez aconteceu algo extraordinário, quando o pintor estava raspando as palavras e viu que ao invés de branco as palavras eram azuis. Continuando com a raspagem o nosso humilde operário, encontrou uma camada profunda, na cor dourada,e foi ai que chamaram os técnicos responsáveis e especializados.
Bem, foram descobertas então folhas cobertas de ouro por baixo de um vidro protetor. O ouro foi aplicado em pequena quantidade, mais ou menos na mesma proporção que existe no salão nobre do teatro.
Significa que foram anos e anos de intervenções mal sucedidas, pintando de várias cores uma parte em que jamais poderiam ter escondido, pois aquilo é ouro! Parabéns ao humilde trabalhador que encontrou esta preciosidade.
A cor do Teatro
Nas últimas décadas, difundiu-se, entre o meio artístico e intelecutal amazonense, uma certa rejeição relacionada ao adocicado cor-de-rosa adotado na pintura atual do Teatro Amazonas. Ignora-se, exatamente, o porquê desta opção, mas observa-se que variações desta cor eram frequentemente usadas nas fachadas dos prédios do século 19; além disso, nota-se que fachadas de teatros divulgadas em 1983, eram tratadas em tons rosa, e isto pode ter orientado na escolha da cor.
No entanto, vale ressaltar que os projetos de fachadas eram convencionalmente apresentados em tons rosa seguindo uma determinação divulgada pelo regimento n° 20, da Repartição de Obras Públicas, organizado em julho de 1869 e que determinava que as plantas deveriam utilizar variações dessa cor para indicar as diferentes alvenarias aplicadas nas obras.
Abaixo é possível ver o Teatro Amazonas durante as Obras. A frente do Teatro Amazonas vista de lado. O Teatro é o maior símbolo da cidade e passou por diversas reformas ao longo dos anos, inclusive mudando de cor diversas vezes (há controvérsia de qual seria a cor original). Durante a Segunda Guerra Mundial chegou a virar um simples depósito.
Em 1990, o historiador Mário Ypiranga Montero (Manaus, 23 de Janeiro de 1909 — Manaus, 8 de Julho de 2004) apresentou dados sobre a cor original do Teatro Amazonas, baseado no conteúdo de uma ordem de serviço emitida pelo governador Fileto Pires Ferreira que , em 25 de agosto de 1897, autorizava Henrique Mazzolani “a executar a pintura externa, de cores cinza e branca concluindo, portanto, que, estas seriam as cores originais adotadas na pintura do Teatro Amazonas. Monteiro informa que o uso do cor-de-rosa nos prédios de Manaus é recente e de autoria do engenheiro Victor Troncoso.
Para se ter ideia, nem o monumento pomposo de Abertura dos Portos é original, ou melhor, é mas não é. Explico… O primeiro levantado para comemorar esse acontecimento era somente um obelisco, e foi erguido em 1867, registrando a data do acontecimento histórico. Esse do registro abaixo.
Ignora-se quando o edifício recebeu nova pintura, mas deduz-se que em função da crise financeira que assolava a região este serviço só tenha ocorrido em 1929, quando ocorreu a primeira reforma do prédio, mas nota-se que a pintura do Teatro Amazonas apresentava uma variação de quatro tons: o mais escuro restringia-se ao barramento da construção, um tom um pouco mais claro revestia o andar térreo e o tímparodo frontão, enquanto que as paredes do segundo pavimento e do andar ático apresentavam um tom mais claro, e os cunhais, colunas e o demais elemntos ornamentais apresentavam o tom mais claro, talvez branco ou creme.
Em sua primeira reforma, o prédio foi pintado em cor-de-rosa e branco e esta cor foi mantida em sua segunda reforma em 1960.
Durante a sua terceira reforma de 1974, causou grande polêmica na cidade, porque embora se tenham resgatado algumas características originais do prédio, pintou-se a fachada em azul e branco, sendo rejeitada por parte da população; por isso, na restauração ocorrida em 1989, retomou-se o tom rosado, porém, menos pastel que o aplicado anteriormente, e substituiu-se o branco por um tom creme, amenizando o acentuado contraste que outrora caracterizava a fachada do edifício.
No final do artigo, coloquei um vídeo da restauração de 1974 do Teatro Amazonas e pode se notar a cor AZULADA do teatro.
Isso explica a cor azul encontrada na parede lateral do Teatro Amazonas nessa última pintura de 2012, que acho que ficou meio laranjado/rosa.
Hoje em dia nosso Teatro Amazonas, sem dúvida a maior herança da Bela Época