O 54° Festival Folclórico de Parintins que neste ano aconteceu nas noites de 28, 29 e 30 de junho, no qual sagrou-se campeão o boi Garantido, teve muito a nos ensinar sobre cultura, preconceito e assuntos modernos que estão sendo discutido em larga escala, entre eles o uso de “black face“.
No momento em que o mundo discute sobre racismo, miscigenação e ódio contra imigrantes, o corpo de jurados do Festival Folclórico levantaram um tema tanto quanto polêmico e que com certeza vale a pena ser discutido. O assunto ainda é de desconhecimento da grande massa , mas com certeza será levado em consideração a partir das próximas edições do Festival de Parintins.
Durante a abertura dos envelopes com as notas dos bumbás a comissão julgadora parabenizou o espetáculo, mas emitiu uma nota de repúdio a black face que ocorreu no festival folclórico no tradicional item do pai Francisco e a mãe catirina.
“O black face é a reprodução de esteriótipos racistas. Quando colocamos pessoas que não são negras para representar negros e os pintamos de preto, estamos sendo desrespeitosos com a raça. Se os índios são representados por pessoas com traços indígenas e os brancos são representados por brancos na festa, nada mais justo que Catirina e Pai Francisco sejam representados por pessoas negras. No século passado black face era usado para ridiculizar os negros”, criticaram os jurados.
Os jurados vieram dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba e Minas Gerais, destes dois últimos estados vieram dois jurados de cada. Os avaliadores possuem qualificações de mestrado, doutorado e pós-doutorado nas áreas que envolvem os blocos comum/musical, cênico/coreográfico e artístico.
Embora extremamente qualificados, eles esquecem porém que não é porque uma pessoa se caracteriza de negro, que obrigatoriamente isso é “black face”. O Black Face propriamente dito é um extinto estilo teatral norte-americano, de motivação racista, humorístico e baseado na estereotipação e inferiorização dos negros, não apenas pela pintura, mas também pela ridicularização do falar e dos trejeitos.
Ora, se no caso da encenação de ambos os bois, o Pai Francisco e Catirina estão encenando um auto, não estão fazendo comédia ou negativando a raça negra, se movem sempre com o reforço de interpretação cênica, afinal o boi bumbá e o bumbá meu boi são festas de fantasia e de simbologia, logo, ao meu ver a licença poética fazem parte dessa essência. É uma linha atenua que separa um do outro.
Por isso penso que criar uma problematização como esta por pessoas que desconhecem a nossa cultura, mais cedo ou mais tarde iria acontecer. E é óbvio que agora não tem mais como negar. Quando essa polêmica chegasse, ela causaria justamente o que causou : Desconforto na grande maioria que se quer alguma vez se preocupou com assunto de racismo no boi bumbá de Parintins.
Curiosamente ou se antecipando, o boi-bumbá Caprichoso este ano não fez blackface porém do Garantido sim e mesmo com toda essa confusão, o boi Garantido foi campeão.